quarta-feira, 22 de agosto de 2012

ao ler-te

E quando termino a página, sinto que te conheço. Sei que não faz sentido. O que eu acabei de ler, muitos acabaram de ler. Talvez agora, em estranha sintonia. Mas eu por te ler, sinto que te conheço. Entendo todas as palavras que escreves e consigo imaginar-te a escrevê-las. Entendo a inquietação que te assombra. E sei também que apenas ela te faz escrever para que eu possa sentir. Talvez não sejas tu que eu conheço, mas a inquietação. Essa que te faz escrever. Essa que me faz escrever, às vezes. Essa que me faz sentir, sempre. Seja como for, sinto que te conheço.

domingo, 19 de agosto de 2012

Conheço-te pela capa

Passei ao teu lado, igual a todas as outras vezes. Pequei em ti, olhei, li a nota de autor na contra capa. Voltei a colocar-te no sítio. Conheço-te pela capa, já sabia o que me ias dizer, nas tuas 753 páginas.
Voltei a colocar-te no sítio.
Não acontece com frequência a surpresa de páginas ricas numa capa como a tua. Tens uma capa fantástica, letra grande, dourada em relevo. Papel macio, quase aveludado numa cor profunda que reflecte conteúdo. Mas, infelizmente para ti, conheço-te pela capa. A tua capa expõe-te como um vestido de qualidade que veste uma pessoa vazia. És uma miragem, se valesses só pela capa, serias maravilhoso, profundo, serias o motor da mudança interior, do ser melhor e para o mundo.
Ao passar a beleza estonteante da capa, vi que o papel era de qualidade, cheirava a novo e a tinta fresca. A dedicatória na primeira folha, a agradecer aos teus e aos que foram para ti, sem eles não terias conseguido escrever aquela obra, aquela capa. O texto começava com a primeira letra trabalhada, fazendo lembrar as fábulas da minha infância, aquelas que me ensinaram os lemas do dia a dia.
Custava a acreditar, eras mesmo perfeito. A tua capa, a tua dedicatória, até a letra trabalhada, foste feito para impressionar.
Depois comecei a ler.
E eras só uma história. Vazia. Não tinhas lema como as fábulas da letra trabalhada. Não tinhas a profundidade que anunciaste no relevo do título. E quando cheguei ao fim, não entendi porque agradecias na primeira página.
Eras só uma capa. Eras belo e novo e talvez até misterioso. Mas eras só uma capa.
Voltei a colocar-te no sítio. A partir de agora ia ter cuidado ao escolher.
De hoje em diante, conheço-te pela capa.

sábado, 18 de agosto de 2012

Conto

Não vou contar nada, ou talvez vá. Mas o conto a que me refiro no título é uma história. Já pensei em escrever um conto, mais vezes do que aquelas que tenho a coragem de admitir, mas depois fico a pensar que talvez fosse má ideia. Acredito que fosse possível escrever uma história, mas não sei se conseguiria escrever uma história boa.

Não sei o que usaria como inspiração. A minha história é demasiado comum para que a partilha da mesmo fosse de algum interesse. Mas já pensei em escrever acerca da história que existe na minha cabeça. É necessário arrumar todos os pensamentos meio tontos que povoam a minha mente.

Não sei como se escreve um conto.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

ao som das ondas

O sol estava forte. Encandeava. Senti a frescura da maresia e conforto ao ouvir o som das ondas. Tudo o que é desordenado encontra a paz, perto dos reinos de Neptuno. Cheguei mais perto e molhei os pés na espuma das ondas. Que bom que é estar em casa.
Quando vinha para cá tive a esperança de te encontrar. Tive a esperança que não fugisses de mim. Esqueci-me, por momentos, que sou eu a escorregadia.
Eu quero continuar este caminho, mas o sol está tão quente, tão acolhedor. Deixo-me ficar por aqui a absorver a sua luz. Lembro-me de ti, do teu riso e da maneira como passavas a mão no meu cabelo. Lembro-me de como era rir por coisas parvas e que, sem fazerem sentido, tinham todo o sentido do mundo. Lembro-me de ti. Lembro-me de nós.
É bom ter lembranças tão doces. É bom saber que não somos agora, mas fomos um dia.
Levo-te comigo e continuo o meu caminho, agora já com o sol a beijar o mar e a lua a voltar a casa.
Levo-te comigo e fico contigo, até ao próximo dia.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Quero-te comigo.

Cheguei aqui pelo meu próprio pé. Mas, quero-te comigo! Cresci com pouco dos outros e cheia de mim. Cheia de dúvidas e de certezas, de vontades e de inércia, cheia de luta e de desistência. Mas, quero-te comigo. Sou forte, independente e, tal como Atlas no início dos tempos, carrego o meu mundo sobre as minhas costas. E quero-te comigo.
Não te quero dizer como foi duro, nem te quero contar sobre as minhas lágrimas e os meus sorrisos. Não quero que vivas o que já passei para chegar aqui. 
Mas quero-te, desesperadamente, comigo.
Quero-te na minha cama, a olhar para mim enquanto escrevo estas palavras. Quero-te perdido em mim enquanto o sol me aquece a pele. Quero-te ver sorrir de volta, quero beijos pela manhã e quero amor pelo resto do dia. Quero-te comigo. Quero que ames quem eu lutei para ser, quero que ames quem eu sou, e não quero. Quero que ames a minha vontade e a minha ternura. Quero que ames o que acho insuportável, apenas para que eu possa aprender a amá-lo contigo. 
Quero-te para partilhar, para dividir, para multiplicar, para tocar, para sentir, para perder e quero-te mais do que tudo para amar.
Quero que tenhas a certeza que eu caminhei sozinha até aqui para te poder ter. Quero que construas comigo o nosso caminho, sem nada do que foi.

Quero-te comigo, nas pequenas coisas, que são todas as coisas.

Quero-te comigo.