Falo aqui muitas vezes de amor e da vida, de sonhos e obstáculos, de vontades e de inércia. Falo aqui muitas vezes para tolerar quem sou, para acrescentar ao dia a dia. Nem tudo o que sai em palavras nasceu assim. Sou a minha própria censura e faço-o para melhorar. Se um texto está bem, mas não é exactamente o que eu queria, reescrevo, digo o mesmo por outras palavras. É isso que fazemos nas relações humanas, não? Tentamos continuamente que o próximo entenda o que queremos dizer, exactamente como está na nossa cabeça. Mas para isso temos que usar palavras comuns, partilhadas, definidas, mas com a possibilidade de ser interpretadas de maneira diferentes consoante as vivências de quem escuta.
É esse o desafio. É essa a dificuldade. São estas interpretações pessoais de palavras comuns que provocam o início de algumas coisas e o fim de tantas. Se ao menos falássemos todos matemática. 2+2 será sempre igual a 4. Ao passo que duas palavras juntas podem ser o nascimento e a morte.
É isso também que me faz amar escrever. A sua ambiguidade. O ser profundo para mim e irrelevante para outro. O poder ser interpretado à minha maneira, o ser belo para mim porque vivi desta maneira e todos os meus momentos me levaram a isso. A ver a beleza entre as linhas. A imensidão do ser que colocamos em palavras.
É quase como apreciar a natureza. Aquela sensação de preenchimento e de pertença e ao mesmo tempo de deslumbramento e arrebatamento por pertencermos a algo tão belo e transcendente. Por sermos parte de algo que toca, que faz sentir.
É isso que este canto de escrita me trás. A sensação de pertencer ao vosso sentir.
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