E quando não aguento mais, rasgo todos os papéis. Rasgo tudo, apago, destruo. Começar de novo quando não existe nada a prender-nos parece mais fácil. Mas e as memórias? O que fazer com os pedaços de nós que teimam em não desaparecer? Não os guardo, para me assombrarem mais tarde. Leio-os, releio, volto a ler, até a tinta que os constitui e os mantém começar a sumir, até o papel onde estão impregnados começar a rarear e a ficar transparente, de tão frágil. Desgasto-as, as palavras e as acções. Penso em tudo até me doer a cabeça, até entender, até simplificar a complexidade da emoção humana. E quando não resta nada, ou tão pouco que já nem se consegue ler, o meu coração acalma. A minha cabeça aceita e a minha alma entende. Eu padeço da pior das características da espécie humana, eu preciso entender para aceitar. Preciso compreender para seguir em frente. Talvez por isso prefiro andar à margem das coisas, a olhar para elas, a tentar decifrá-las. Talvez por isso tenha tanto receio, que as coisas e as palavras me possuam.
Prefiro ser eu a tê-las, do que elas terem-me a mim.
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