E quando não aguento mais, rasgo todos os papéis. Rasgo tudo, apago, destruo. Começar de novo quando não existe nada a prender-nos parece mais fácil. Mas e as memórias? O que fazer com os pedaços de nós que teimam em não desaparecer? Não os guardo, para me assombrarem mais tarde. Leio-os, releio, volto a ler, até a tinta que os constitui e os mantém começar a sumir, até o papel onde estão impregnados começar a rarear e a ficar transparente, de tão frágil. Desgasto-as, as palavras e as acções. Penso em tudo até me doer a cabeça, até entender, até simplificar a complexidade da emoção humana. E quando não resta nada, ou tão pouco que já nem se consegue ler, o meu coração acalma. A minha cabeça aceita e a minha alma entende. Eu padeço da pior das características da espécie humana, eu preciso entender para aceitar. Preciso compreender para seguir em frente. Talvez por isso prefiro andar à margem das coisas, a olhar para elas, a tentar decifrá-las. Talvez por isso tenha tanto receio, que as coisas e as palavras me possuam.
Prefiro ser eu a tê-las, do que elas terem-me a mim.
quarta-feira, 25 de setembro de 2013
sábado, 21 de setembro de 2013
Contentamento
Passamos por muitas vidas, propositadamente ou sem intenção. Mudamos e somos mudados por cada respiração, vontade e acção das pessoas que permitimos nas nossas vidas. Mas deveremos nós aceitar, sem reserva, aquilo que nos chega? Sem questionar e ambicionar mais? Devem o amor e a liberdade ser um contentamento, porque poderia ser pior? Poderias estar presa, ou só? Não acredito que o que há seja o melhor que se arranja. Não acredito que não pode ser mais do que isto. Desculpem, mas não acredito. Como passar toda a vida acompanhada por contentamento, sem paixão, sem frio na barriga, sem borboletas? Antes presa, longe do mundo, mas pertinho de mim e das minhas convicções e vontades.
Não existe maior prisão do que aquela que criamos para nós mesmos. Aquela que nos prende em liberdade. Aquela à qual nos restringimos com medo do que pode ser, de que não consigamos mais, de que não sejamos suficientes. Recuso-me a ser acorrentada por mim própria, a ser algemada pelos meus medos e pelas minhas inseguranças, recuso-me!
Se tenho medo? Todos os dias, a toda a hora.
Não existe maior prisão do que aquela que criamos para nós mesmos. Aquela que nos prende em liberdade. Aquela à qual nos restringimos com medo do que pode ser, de que não consigamos mais, de que não sejamos suficientes. Recuso-me a ser acorrentada por mim própria, a ser algemada pelos meus medos e pelas minhas inseguranças, recuso-me!
Se tenho medo? Todos os dias, a toda a hora.
domingo, 15 de setembro de 2013
pedaços...
"...olhas-me e só tu sabes: na rua onde os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir: (...) um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga."
"A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu."
"Manda no que fazes, Nem de ti mesmo servo. Niguém te dá quem és. Nada te mude."
"E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz."
"Se te estranharem, sorri. Uma vez mais, garante que fica registado em acta."
"A imperfeição é muito mais bonita do que a perfeição porque a perfeição não existe. Ou, se existe, está ao lado do erro, faz parte dele."
"Despenteia-te."
José Luis Peixoto
José Saramago
Fernando Pessoa
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sexta-feira, 9 de agosto de 2013
Summer bliss
Sentir os grão de areia a entrar no chinelo. Baixar-me para descalçá-los, mexer os dedos e misturá-los com o calor da areia. Cheirar o mar. Sentir o vento e os salpicos de maresia na cara, um arrepio. O silêncio, que diz muitas coisas, e sente outras tantas, maiores e mais profundas. O mergulho no mar, sentir o toque da água fresca em todos os pedacinhos de pele, sentir um pertencer. Todos os sentidos em sobrecarga, o coração bate forte, a alma está calma, como o mar profundo, sereno, forte e intemporal. Fechar os olhos e ser inundada por mil sensações e sentir paz. No final do dia, não volto a casa a mesma, volto melhor, mais leve, mais limpa. Como se a natureza me inundasse e me completasse e todos os problemas dos homens fossem menores comparados com o sentimento rude de pertença ao mundo.
segunda-feira, 22 de julho de 2013
pequenas coisas e coisas pequenas
A inspiração vem dos sítios mais estranhos. Um pássaro a voar, uma borboleta que poisa na tua mão e à qual sopras para que continue a sua viagem, um sorriso sincero e um olhar sedutor. Às vezes, lemos um texto, dum autor qualquer, e que espelha na perfeição a nossa história. É a simetria do que sentimos, ou desejamos sentir.
Um texto fez-me lembrar como a felicidade é o caminho e não o destino. O calor do sol sob os olhos fechados e o cheiro a mar. A companhia silenciosa e os sorrisos disfarçados, mas que vemos bem e sentimos ainda melhor. O carinho de um amigo, o abraço de um irmão. Os teus dedos no meu cabelo e o teu cheiro envolvente.
Uma gargalhada. Haverá maior felicidade que uma gargalhada pela razão mais tola? Haverá maior cumplicidade do que dividir um sorriso?
Por isso mesmo, a felicidade é o caminho. É a soma de todas as pequenas coisas que fazem sentido, e de algumas coisas pequenas sem sentido algum. A felicidade são os pedacinhos, as metades, os restos até, dessas coisas indescritíveis das quais é difícil falar. A felicidade não se explica, sente-se. E na maioria das vezes, só temos a percepção de sermos felizes uns tempos depois. A perspectiva de um sentir passado, em que na altura estávamos demasiado envolvidos para perceber. Desconfiamos, porque a paz que sentimos é reconfortante e turbulenta, é lago quieto e mar revolto.
As pequenas coisas fazem a diferença e as coisas pequenas, toda juntas e amealhadas fazem coisas enormes. A felicidade comporta-se assim, ninguém é feliz, e somos todos felizes. Porque não se pode ser um acontecimento nem um caminho sempre, vivemos acontecimentos e fazemos caminhos, e é essa aventura que nos torna felizes. Aquele momento e todos os outros em que recordamos os nossos pedacinhos passados. Assusta, mas todas as coisas verdadeiramente boas metem medo. Ultrapassá-lo é também um caminho para ser feliz!
Um texto fez-me lembrar como a felicidade é o caminho e não o destino. O calor do sol sob os olhos fechados e o cheiro a mar. A companhia silenciosa e os sorrisos disfarçados, mas que vemos bem e sentimos ainda melhor. O carinho de um amigo, o abraço de um irmão. Os teus dedos no meu cabelo e o teu cheiro envolvente.
Uma gargalhada. Haverá maior felicidade que uma gargalhada pela razão mais tola? Haverá maior cumplicidade do que dividir um sorriso?
Por isso mesmo, a felicidade é o caminho. É a soma de todas as pequenas coisas que fazem sentido, e de algumas coisas pequenas sem sentido algum. A felicidade são os pedacinhos, as metades, os restos até, dessas coisas indescritíveis das quais é difícil falar. A felicidade não se explica, sente-se. E na maioria das vezes, só temos a percepção de sermos felizes uns tempos depois. A perspectiva de um sentir passado, em que na altura estávamos demasiado envolvidos para perceber. Desconfiamos, porque a paz que sentimos é reconfortante e turbulenta, é lago quieto e mar revolto.
As pequenas coisas fazem a diferença e as coisas pequenas, toda juntas e amealhadas fazem coisas enormes. A felicidade comporta-se assim, ninguém é feliz, e somos todos felizes. Porque não se pode ser um acontecimento nem um caminho sempre, vivemos acontecimentos e fazemos caminhos, e é essa aventura que nos torna felizes. Aquele momento e todos os outros em que recordamos os nossos pedacinhos passados. Assusta, mas todas as coisas verdadeiramente boas metem medo. Ultrapassá-lo é também um caminho para ser feliz!
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