quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

O dom da palavra

Como eu gostava de saber escrever o que penso. A infinita quantidade de ideias, algumas meio tresloucadas, que me passa na cabeça deveria pertencer a algo físico, deveria ser tangível. Mas não tenho o dom da palavra. Quando leio alguns dos meus escritores preferidos e me vejo nas palavras deles, tenho uma ponta de inveja boa. Penso, como eu gostava de saber passar o que sinto para a tinta que escorre da caneta. Como eu gostava de explicar às pessoas o que me move, as coisas que me comovem, que me fazem rir, as que me fazer chorar, que são quase tantas como as anteriores e sou feliz! Gostava que o que penso tomasse forma. Gostava que o entendessem, sem que o tivesse de explicar e sem parecer meio tonta por isso. Gostava que entendessem a gargalhada que dou quando estou a ler ou a lágrima, que não escorre, por algo que me tocou o coração. Gostava que entendessem como somos cúmplices e gostava de saber se concordam comigo naquela ideia. E o que eu gostava mesmo muito era que me continuassem a amar, após esta partilha. Se eu tivesse o dom da palavra e vos dissesse tudo o que me passa pela cabeça, exactamente da maneira que sinto, amar-me-iam vocês no final? O que eu gostava mesmo de saber era, se depois de me conhecerem, continuariam à espera de ler o que penso e de ouvir o que escrevo? Mas isto seria, se eu tivesse o dom da palavra. Não o tenho.

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