domingo, 20 de janeiro de 2013

Capítulo 1


-Raio de tempo! – Pensou Elisa quando saiu de casa e olhou para as nuvens. O céu reflectia o seu humor, negro e húmido. Elisa acordou nesse dia a sentir-se velha e cansada. Apesar de ter apenas 32 anos, certas manhãs parecia que carregava o mundo nas costas.
Tinha sonhado com a mãe nessa noite, ainda não conseguia conceber um mundo onde a mãe não existisse. Era uma dor sempre presente. Apesar disso foi um sonho bom, Elisa tinha sonhado com o piquenique que tinham feito nas margens de um lago, quando tinha 12 anos. Foi um dia perfeito. Mas o sonho, apesar de feliz, deixara marcas em Elisa, tumultos presentes a cada vez que sonhava com a mãe.
A praça principal da cidade estava cheia de vida, como acontecia todas as manhãs. Homens de várias origens tornados irmãos pelos fatos de corte semelhante. O incessante burburinho ensurdecedor provocado pelos madrugadores que trabalham no centro da capital. Elisa sentia-se em casa. Aquele era o seu mundo, era a capitã do navio que era a sua vida.
Ao entrar no átrio em mármore frio do prédio onde trabalha, Elisa vê ao longe um homem alto e elegante, que apesar de não ser o mais bonito do escritório, é com toda a certeza o mais conhecido.
-“Bom dia Elisa, já viste esta chuva? Nunca mais chega o Verão!” – Gonçalo era simpático, talvez demasiado simpático. Fazia-a rir de todas as vezes que conversavam e o facto de namoriscar com todas as mulheres do escritório, incluindo ela própria, era só mais um traço enternecedor da sua personalidade. E ao contrário do que seria esperado era algo que o tornava ainda mais charmoso e interessante, do que era na realidade.
-“É hoje que aceitas tomar aquele cafezinho comigo? Va lá, aposto que te ias divertir!”
-“Gonçalo, diz-me a sério, quando é que te vais cansar de ouvir não?” – Perguntou Elisa a sorrir.
-“ Um não teu? Nunca!” – Gonçalo sorriu, aquele sorriso matreiro que tanto agradava Elisa e que por vezes lhe dava vontade de responder sim aos inúmeros convites que ele lhe fazia todos os dias. Mas ela sabia quem ele era, e Elisa era apenas mais uma. Independentemente disso, Gonçalo deixava-a sempre bem-disposta e naquele dia, em especial, agradeceu-lhe por isso.
-“ Mais uma vez obrigada. E, como gosto de ser coerente, fica para uma próxima vez!”
Gonçalo piscou-lhe o olho e afastou-se, com um sorriso matreiro e um olhar lânguido. Era confortante saber que havia coisas que nunca mudavam, Elisa sorriu e dirigiu-se à sua sala.
Ao entrar Elisa reconheceu a vista da janela e o monte de papéis que tinha deixado em cima da mesa na noite anterior.
-É incrível como o trabalho se acumula – suspirou Elisa enquanto olhava para a sua secretária. Só quando se sentou é que reparou que tinha correio em cima da mesa.
Já tinha mudado de casa há quase 6 meses e mesmo assim ainda lhe reenviavam para o emprego o correio extraviado que ia parar à morada antiga.
- “Estranho, uma notificação do tribunal.” – Pensou Elisa enquanto abria a carta com a sua faca de envelopes, prenda do pai no Natal anterior.

Elisa não poderia adivinhar como a abertura daquela carta iria mudar a sua vida. Talvez fosse uma mudança aquilo que Elisa precisava, mas o que aconteceu, ninguém, muito menos Elisa poderia adivinhar.

Partilha

Queridos amigos que partilham os meus devaneios neste blog. Tenho a ambição, meio secreta, de escrever. Já devem ter percebido...
Comecei a escrever um livro sem título e que provavelmente não chegará a lado algum. Mas gostava de o partilhar aqui, tornado-o assim mais real. Mais possível.
Vai levar tempo, para mim escrever é uma inspiração e por essa razão não aparece sempre que quero, mas sempre que essa vontade, claramente superior a mim, impera.
Quero ouvir o que pensam, quero que me digam se gostam ou não. Provavelmente não irá mudar em nada a linha da história, mas ajuda-me a crescer e talvez, com muita esperança e vontade, a escrever melhor.
Mais uma vez, perdoem-me desde já o imenso tempo que demorarei a partilhar esta história convosco. E acreditem que a partilho porque confio e porque parte do prazer de escrever é saber que alguém lê.

O livro não tem título, veremos se terá fim.

sábado, 12 de janeiro de 2013

o café

Quando saí, ao ouvir a porta bater atrás de mim, o mundo desapareceu. O que aconteceu? - perguntei a mim própria enquanto respirava fundo e tentava afastar a dormência doce que se apoderou de mim após a invasão daquele olhar azul.
- Respira Alice, respira e vai trabalhar! - disse num sussuro enquanto atravessava a rua.

O resto do dia foi pálido, em relação aos acontecimentos daquela manhã de inverno.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

o café

Entrei e fui directo à minha mesa de sempre, que espera por mim. Ao contrário de todas as outras vezes, não houve repetição. A mesa já não era minha. Estava ocupada.
A minha disposição mudou logo, aquela é a minha mesa, este é o meu café. Quem pensa que é aquele estranho de olhos cor do mar e cabelos cor de terra. Sentei-me perto da janela, contrariada. Daqui vejo a rua e o balcão, vejo toda a sala. É uma mesa bem melhor, falando em verdade. Mas que importa isso? Quero a minha mesa, para beber o meu café.

O meu café chegou, coloquei meio pacote de açucar, como sempre, na minha mesa de nunca. Mexi, soprei e olhando o infinito levei a chávena à boca. Ao sentir o líquido quente nos lábios, percebi que o infinito para onde olhava tinha cor. Azul. E olhava-me de volta.

Sobressaltada, baixei a chávena, e os olhos, em resposta ao sorriso aberto que esboçaste na minha direção.

Borboletas.