Elisa estava à espera há quase 30
minutos. “Mas porque tanta demora” – Pensava Elisa – “E quem será Eduarda
Neves?”. Neves era um dos seus apelidos, mas Elisa desconhecia alguém que se
chamasse Eduarda e que pertencesse à sua família.
Na verdade, Elisa não tinha bem a
certeza. A família materna sempre tinha sido um assunto delicado. A mãe de
Elisa sempre fora uma mulher frágil, consumida por uma tristeza permanente,
dilacerada por um segredo. Elisa sempre soube que a mãe lhe escondia alguma
coisa, tentou várias vezes, em vão, descobrir o quê. Mas havia algo que sempre
a perturbara, Elisa nunca ouvira falar da sua avó. Quando era criança tinha perguntado
algumas vezes à mãe acerca da sua avó, mas esta nunca lhe dera uma resposta
concreta e ficava sempre triste e distante, e por essa razão, ela deixou de
perguntar.
- Finalmente! – Pensou Elisa, quando viu o
advogado. – Encontramo-nos aqui presentes para a leitura do testamento da
Eduarda Neves.
No final dessa tarde, Elisa sentiu
que tinha envelhecido 10 anos. Tanta coisa desconhecida, tantos segredos,
tantas mentiras. – Porquê mamã, porque nunca me disseste que eu tinha mais
família? Porque nunca me contaste o que aconteceu contigo, o que foi que eles
te fizeram, porquê mamã?! – Segredou Elisa à sua almofada, enquanto lutava com
a insónia e inquietação que se tinha apoderado dela desde a leitura daquele
maldito testamento. Quando o advogado terminou a leitura, Elisa descobriu que
Eduarda Neves era sua tia-avó e que lhe tinha deixado uma casa junto ao mar,
numa aldeia perdida no litoral. Descobriu ainda, que nessa casa poderiam estar
as respostas para as perguntas que tinha feito durante toda a sua vida. Quem
era a sua avó materna? Porque nunca sentira amor entre os seus pais, porque
nunca falava a mãe da tristeza que a acompanhava? – E agora? O que faço? Largo
tudo e vou tentar saber quem sou ou vou deixar-me consumir pela incerteza? –
Elisa estava num impasse, que resolveu assim que a luz clara e quente do Sol
irrompeu pela sua janela.
∞
Quando entrou no carro Elisa estava decidida. Ia conhecer a
casa estranha que era sua e iria descobrir quem era Eduarda.
A paisagem foi mudando à medida que os quilómetros foram
passando. A superfície vítrea e o cinzento do betão foram dando lugar ao verde
das paisagens e ao cheio fresco e leve do mar. A aldeia dava as boas vindas aos
visitantes de maneira humilde, com um sinal no início da rua. As ruas estavam
desertas e Elisa parou junto à única pensão que havia. A casa ainda era
demasiado, não conseguiria dormir lá, mesmo sabendo que é sua.
- Bom dia! Eu gostaria de alugar um quarto, por favor. –
Elisa pousou a sua mala pequena na cama de ferro. Sentou-se e chorou. Chorou a
tarde toda, chorou por uma tia que não conheceu, chorou por todas as coisas que
lhe foram negadas, chorou pela dor da sua mãe que sempre sentiu como sua. No
final da tarde sentia-se mais leve e pronta para enfrentar todos os fantasmas
da sua vida.
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