terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Capítulo 2


Quando os raios de sol rompem o horizonte pela primeira vez em cada manhã, é a hora que o homem de olhos cinzento e cabelo da cor do sol está a caminhar em direcção ao mar. É verdade todas as manhãs desde há 3 anos. Os aldeões sabem que se chama Daniel. E é só. Sabem, também, que os seus olhos brilhantes e as rugas perfeitas do seu rosto, em junção com as poucas palavras, que por algum engano ou descuido, partilharam são sinónimo de um passado que não consegue largar o presente.
Todos os dias Daniel, o pescador, sai no seu barco para o mar. É a única altura do dia em que percebem algum tipo de sentimento na sua expressão, ao ver o mar banhado pelo primeiro raio de sol. É quase tão misterioso quanto belo. O cabelo cor do sol e a face perfeita poderiam ter sido desenhados com o pincel de um pintor renascentista. Ninguém sabe nada do seu passado, mas todos vêem que Daniel o carrega consigo, onde quer que vá.
-“Sr. Daniel, muitos bons dias! Já sabe da notícia?” – Perguntou a D.Gertrudes quando Daniel entrou na mercearia para comprar fruta.
-“Que notícia será essa?” – Respondeu Daniel, sem estar verdadeiramente interessado na resposta. Apesar de não se importar muito com as tertúlias de aldeia pequena, não pode deixar de reparar que estavam todos muito inquietos nesse dia. Desde manhã, que ao sair do mar reparou na ambulância que subia o pinhal, saindo do casarão da D. Eduarda.
A D. Eduarda era uma senhora idosa que sempre vivera sozinha, pelo menos desde que Daniel se mudou para a aldeia. Nunca conseguiu saber nada sobre ela, e a única vez que ouviu alguém falar sobre o assunto, foi na taberna do Tio Chico, e todos ficaram em silêncio quando ele entrou. Se é que fosse possível, a D. Eduarda era um assunto ainda mais misterioso que ele próprio, o que não pôde deixar de o fazer sorrir.
- “A D. Eduarda, pobre senhora, faleceu a noite passada. Está tudo preocupado com quem irá herdar a casa e as terras. Que se saiba não tem parentes vivos e há mais de 20 anos que não tem visitas. Era boa pessoa, mas solitária. Aposto que todos os parentes se vão desunhar para ficar com as terras e a casa. É sempre assim com a família, só se lembram de santa Bárbara quando faz trovões! Que é como quem diz, só se vão lembrar da pobre alma quando for hora para lhe ficarem com tudo!” – Era sempre assim com a D. Gertrudes, ela começava e acabava as conversas sem necessitar de qualquer tipo de ajuda. Daniel acenou com a cabeça e murmurou um “Que descanse em paz” quase imperceptível.
Apesar da bisbilhotice que parecia ser inata a todos os habitantes daquele pequeno paraíso de desaguava no mar, Daniel amava aquela aldeia. Ao contrário das suas próprias expectativas, sentia que estava em casa quando entrava no mar e quando descansava ao sol sentado na areia quente. Naquela areia quente. Daniel não gostava de pensar em areia, fazia lembrá-lo do deserto e de todas as coisas que perdera quando deambulou, perdido, no seu deserto. Daniel abanou a cabeça para afastar o pensamento, não queria, aliás, não podia pensar nisso.
Subiu a rua e continuou quando a estrada terminou, a sua casa era bem embrenhada no pinhal, longe de tudo. A casa perfeita. O refúgio perfeito.
Daniel não sabia o que era uma noite de sono. Não dormia. Fechava os olhos, o seu inconsciente assumia o controlo, mas não dormia. Não descansava. O deserto tomava sempre conta da sua mente, o som dos tiros, e o vermelho do sangue.
Daniel não conhecia a paz.

2 comentários:

  1. huuuummmmm quero mais!!! estou a gostar <3. vera

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  2. Obrigada pela força amiga! Nunca fiz isto nem tenho formação para tal, escrevo o que me vem à cabeça. Ainda bem que tenho a vocês para gostarem da minha ingenuidade na escrita! Best of friends** <3

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