segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Happy New Year

2013 foi um ano inesperado. Tantas coisas novas, tantas sensações novas, tantos lugares novos. A coragem que nasceu não sei de onde e apoderou-se da minha vida não sei porquê. Os lugares novos, as fotografias, as recordações. Mais trabalho, mais responsabilidade e mais tempo ocupado. Mais membros na família da amizade, alguns acabados de nascer, outros ainda na barriga. Doçura, carinho e mais umas quantas sensações novas, que me foram conquistando ou que talvez tenham sido conquistadas por mim.
Foi um ano bom, contrariamente à superstição do 13.
Talvez tenha sido esse o segredo.

Feliz 2014!


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

older, but the same

"Gostas de andar de metro?
Gosto, gosto de olhar as pessoas e perceber que andamos com o coração nos olhos e nos gestos e vemos muito mas reparamos em muito pouco e por vezes caímos no erro de acreditar que somos sozinhos e sofremos e amamos sozinhos."


Respondi a esta pergunta há cerca de 3 anos... A opinião mantêm-se.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

papéis

E quando não aguento mais, rasgo todos os papéis. Rasgo tudo, apago, destruo. Começar de novo quando não existe nada a prender-nos parece mais fácil. Mas e as memórias? O que fazer com os pedaços de nós que teimam em não desaparecer? Não os guardo, para me assombrarem mais tarde. Leio-os, releio, volto a ler, até a tinta que os constitui e os mantém começar a sumir, até o papel onde estão impregnados começar a rarear e a ficar transparente, de tão frágil. Desgasto-as, as palavras e as acções. Penso em tudo até me doer a cabeça, até entender, até simplificar a complexidade da emoção humana. E quando não resta nada, ou tão pouco que já nem se consegue ler, o meu coração acalma. A minha cabeça aceita e a minha alma entende. Eu padeço da pior das características da espécie humana, eu preciso entender para aceitar. Preciso  compreender para seguir em frente. Talvez por isso prefiro andar à margem das coisas, a olhar para elas, a tentar decifrá-las. Talvez por isso tenha tanto receio, que as coisas e as palavras me possuam.
Prefiro ser eu a tê-las, do que elas terem-me a mim.  

sábado, 21 de setembro de 2013

Contentamento

Passamos por muitas vidas, propositadamente ou sem intenção. Mudamos e somos mudados por cada respiração, vontade e acção das pessoas que permitimos nas nossas vidas. Mas deveremos nós aceitar, sem reserva, aquilo que nos chega? Sem questionar e ambicionar mais? Devem o amor e a liberdade ser um contentamento, porque poderia ser pior? Poderias estar presa, ou só? Não acredito que o que há seja o melhor que se arranja. Não acredito que não pode ser mais do que isto. Desculpem, mas não acredito. Como passar toda a vida acompanhada por contentamento, sem paixão, sem frio na barriga, sem borboletas? Antes presa, longe do mundo, mas pertinho de mim e das minhas convicções e vontades.
Não existe maior prisão do que aquela que criamos para nós mesmos. Aquela que nos prende em liberdade. Aquela à qual nos restringimos com medo do que pode ser, de que não consigamos mais, de que não sejamos suficientes. Recuso-me a ser acorrentada por mim própria, a ser algemada pelos meus medos e pelas minhas inseguranças, recuso-me!
Se tenho medo? Todos os dias, a toda a hora.

domingo, 15 de setembro de 2013

pedaços...

"...olhas-me e só tu sabes: na rua onde os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir: (...) um oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga."

"A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que lhe estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu."

"Manda no que fazes, Nem de ti mesmo servo. Niguém te dá quem és. Nada te mude."

"E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz."

"Se te estranharem, sorri. Uma vez mais, garante que fica registado em acta."

"A imperfeição é muito mais bonita do que a perfeição porque a perfeição não existe. Ou, se existe, está ao lado do erro, faz parte dele."

"Despenteia-te."



José Luis Peixoto
José Saramago
Fernando Pessoa

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Summer bliss

Sentir os grão de areia a entrar no chinelo. Baixar-me para descalçá-los, mexer os dedos e misturá-los com o calor da areia. Cheirar o mar. Sentir o vento e os salpicos de maresia na cara, um arrepio. O silêncio, que diz muitas coisas, e sente outras tantas, maiores e mais profundas. O mergulho no mar, sentir o toque da água fresca em todos os pedacinhos de pele, sentir um pertencer. Todos os sentidos em sobrecarga, o coração bate forte, a alma está calma, como o mar profundo, sereno, forte e intemporal. Fechar os olhos e ser inundada por mil sensações e sentir paz. No final do dia, não volto a casa a mesma, volto melhor, mais leve, mais limpa. Como se a natureza me inundasse e me completasse e todos os problemas dos homens fossem menores comparados com o sentimento rude de pertença ao mundo.

segunda-feira, 22 de julho de 2013

pequenas coisas e coisas pequenas

A inspiração vem dos sítios mais estranhos. Um pássaro a voar, uma borboleta que poisa na tua mão e à qual sopras para que continue a sua viagem, um sorriso sincero e um olhar sedutor. Às vezes, lemos um texto, dum autor qualquer, e que espelha na perfeição a nossa história. É a simetria do que sentimos, ou desejamos sentir.
Um texto fez-me lembrar como a felicidade é o caminho e não o destino. O calor do sol sob os olhos fechados e o cheiro a mar. A companhia silenciosa e os sorrisos disfarçados, mas que vemos bem e sentimos ainda melhor. O carinho de um amigo, o abraço de um irmão. Os teus dedos no meu cabelo e o teu cheiro envolvente.
Uma gargalhada. Haverá maior felicidade que uma gargalhada pela razão mais tola? Haverá maior cumplicidade do que dividir um sorriso?
Por isso mesmo, a felicidade é o caminho. É a soma de todas as pequenas coisas que fazem sentido, e de algumas coisas pequenas sem sentido algum. A felicidade são os pedacinhos, as metades, os restos até, dessas coisas indescritíveis das quais é difícil falar. A felicidade não se explica, sente-se. E na maioria das vezes, só temos a percepção de sermos felizes uns tempos depois. A perspectiva de um sentir passado, em que na altura estávamos demasiado envolvidos para perceber. Desconfiamos, porque a paz que sentimos é reconfortante e turbulenta, é lago quieto e mar revolto.
As pequenas coisas fazem a diferença e as coisas pequenas, toda juntas e amealhadas fazem coisas enormes. A felicidade comporta-se assim, ninguém é feliz, e somos todos felizes. Porque não se pode ser um acontecimento nem um caminho sempre, vivemos acontecimentos e fazemos caminhos, e é essa aventura que nos torna felizes. Aquele momento e todos os outros em que recordamos os nossos pedacinhos passados. Assusta, mas todas as coisas verdadeiramente boas metem medo. Ultrapassá-lo é também um caminho para ser feliz!

sábado, 22 de junho de 2013

Lado Lunar

A parte mais sombria da minha alma é também a mais sedutora. A que não tem medo e nem pensa bem nas coisas que faz, se der vontade acontece. É a mais difícil de combater e requer uma dura diária. Acho que ter a capacidade de reconhecê-la já é uma vitória, lutar com ela todos os dias é uma guerra dos 100 anos, a qual não consigo vislumbrar um final.

Mas será que quero?

Gosto do meu lado lunar, o lado do, agora porque sim. O lado do desejo desenfreado e das decisões sem sentido e que podem resultar ou não. O meu lado racional não entende e apresenta uma luta resistente, que nem sempre vence.

Mas não é viver arriscar? Não é viver, sentir, mesmo que não seja uma alegria contagiante e antes uma agonia doce e lenta que consome e aumenta todas as vontades? Não é fácil expor tudo o que tentámos proteger, por tanto tempo sem resultados, mas pode ser que funcione.

Mudar de estratégia.

Deixar dominar o negro e visceral que me pertence tanto como  luz e a serenidade.

Não é fácil perder o controlo, mas é tão bom, tão livre.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Chegar (ou voltar) a casa

Diz-se que o domingo não teria o mesmo sabor se não fosse desejado durante toda a semana, é como a 6ª-feira, queres tanto que cheguem e vão-se logo embora, num ápice. É como o Verão e o Sol. Desejamos tanto estas pequenas coisas que passamos a vida à espera que cheguem, à espera que dêem o ar da sua graça. Na maioria das vezes, não têm nada de especial, são mais um dia, igual aos outros. Mais uma estação, sem nada de esplendoroso ou de marcante. Mas por os desejarmos tanto tornam-se especiais, mesmo sendo ordinários e comuns.
É essa a magia das coisas que levam tempo. Mesmo que durem pouco, recorda-mo-las como mágicas e especiais, pela antecipação que as precedeu.

Bom fim de semana!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Capítulo 4

O som era ensurdecedor, tiros, gritos, dores e pânico. Pânico que se ouvia, sentia e saboreava. As manchas negras e vermelhas, o comandante mexia os lábios, mas Daniel não ouvia nada, só sentia o pânico a engoli-lo e o corpo quente como fogo. Daniel acorda repentinamente e a suar - Mais um sonho, foi só um sonho.. - Repetiu para si próprio.
O dia começava sempre cedo para Daniel, em parte porque era assim a vida de um pescador, e em parte porque nunca conseguia dormir. Os sonhos estavam melhores agora, mais curtos e menos frequentes. Mas o dia não esperava e o mar também não, por essa razão Daniel levantou-se e preparou-se para sair.

                                                                   --

Daniel era o mais jovem da sua companhia. Eram como uma família. E quando partiram juntos, pensaram que iam salvar o mundo. O que nunca ninguém lhes disse foi que as missões de paz são um tédio. O tempo arrasta-se infinitamente dentro de cada minuto e o pó e o calor do deserto tornam o corpo mole e peganhento. Nunca se passava nada, até àquela tarde, aquele transporte, aquela ravina.

Daniel vivia com Marina desde que se alistara no exército. Eram um amor jovem, mas firme. Conheceram-se na escola secundária onde a Marina disse muitos nãos até Daniel ouvir o sim que sempre quis. Gostava dela desde os 10 anos, era como se não houvesse um amor maior. No dia que soube que ia para o deserto Daniel chegou a casa a disfarçar o entusiasmo e a adrenalina que já lhe corria nas veias com a antecipação da tão ansiada missão.
- Amor, fui destacado para uma missão. No deserto. Partimos daqui a 3 semanas.
Silêncio. Um peso invisível e poderoso alastrou-se pela cozinha e Marina afastou-se da bancada já com os olhos cheios de lágrimas.
- Quando tempo vais ficar por lá, Daniel? - Perguntou Marina, articulando as palavras entre soluços mudos.
- Em princípio serão 6 meses. Mais vai passar depressa amor, vais ver, num instante estou de volta. - assegurou Daniel, sem colocar certezas nas suas próprias palavras. - Pensa que com o dinheiro extra que vou ganhar poderemos começar a pensar em bebés.
- Bebés? Estás a falar a sério? Mas nunca tínhamos falado nisso, a sério, quero eu dizer, não estou a perceber Dani. - Um esboço de sorriso nasceu nos lábios de Marina e Daniel soube que o seu desvio da conversa da guerra e do deserto tinha funcionado. Não se sentia orgulhoso por recorrer a tais artimanhas, mas a dor de Marina pesava tanto dentro dele próprio que se tornava mais difícil de suportar do que a sua própria dor.

Agora quando recordava Marina já não doía tanto. Deixá-la acabou por ser a melhor decisão que poderia ter tomado. Apesar da dor. Apesar da mágoa. Quando voltou do deserto Daniel não era o mesmo, o amor não era o mesmo, a pele não era a mesma, a dor era maior. Não conseguia suportar o cheiro de Marina, tão doce e intenso, e a sua pele, apesar de a desejar loucamente, queimava e fazia doer ao tocar na sua. Daniel estava diferente, o mundo estava diferente. O maior amor tornou-se na maior dor pela culpa e pelo medo. Pelas lembranças. Daniel não merecia ser feliz e Marina merecia o melhor. Desejava-a mais do que qualquer outra coisa, mas a intensidade de tê-la estava a destruí-lo. Foi a melhor decisão possível, para ela. Era a mentira que contava a si próprio todos os dias, sem estar verdadeiramente a mentir.

                                                                     --

Marina era o seu último pensamento antes de dormir e o primeiro ao acordar. Naquele dia em especial, ainda não tinha pensado nela, só na vontade de ver o mar. Só pensou nela quando viu a silhueta de uma mulher ao longe na sua praia, antes do dia nascer.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

I'm spoiled, by your love...

Sempre gostei do dia do meu aniversário. Desde miúda, quando fazíamos festas com balões, sandes de fiambre e gelatinas. Gosto de ter um dia meu. Lembro-me da minha mãe me ir levar a prenda à cama, na manhã do meu aniversário e lembro-me dos beijinhos e dos abraços. Depois crescemos e na escola num tempo em que o contacto e o toque se descobrem, recordo como eram bons os beijinhos e os abraços dos amigos. Fizeram-me uma festa surpresa quando fiz 18 anos. Apareci numa camisa de dormir, que já era velhinha nessa altura e que ainda hoje durmo com ela, e apareceram as vossas caras e os vossos "surpresa". Fiquei emocionada e envergonhada, porque uma camisa de dormir dos meus 13 anos já deixa algumas coisas destapadas aos 18, nem vamos falar aos 28. Mas fiquei, principalmente, feliz. Todos os esquemas e todos os planos para eu não desconfiar, e não desconfiei, e a vossa alegria de me terem conseguido surpreender mesmo.
Gosto de fazer anos.
Gosto mesmo. Não me sinto mais velha. Sinto-me mais amada. Sinto-me querida.
Numa época em que muitas relações e sentimentos se tornam efémeros e muitas vezes descartáveis. No dia do meu aniversário o vosso sentimento é tangível, chega a mim. Parece que o véu que pousa no sentir das pessoas se levanta, e dizer gosto de ti, é permitido. Dizer, és linda nunca mudes, é permitido. Muitos beijinhos e tenho saudades, não calha mal e sabe tão bem.
Eu sinto muitas coisas e de maneira muito variada, tanto em forma como em quantidade. Acredito que escrevo porque as palavras espelham e confortam as mil coisas que sinto. Não sei se o faço bem, provavelmente poderia fazê-lo melhor, mas serve o propósito para o qual o faço. Sentir. Às vezes sinto tanto que não consigo exprimi-lo nas conversas, às vezes consigo exprimi-lo nas acções, mas fico sempre a achar que ficou aquém do que deveria ter sido. Escrever ajuda. Vocês gostarem do que escrevo é maior do que qualquer texto ou quaisquer palavras.
No dia que fazemos anos é permitido sentir e mostrar aos outros aquilo que sinto todos os dias. Aquilo que controlo com uma personalidade mais ou menos forte, com um temperamento mais ou menos explosivo e com uma timidez, muitas vezes desarmante para mim e injusta para vocês. No meu aniversário não existe qualquer embaraço em amar e ser amada de volta, existem só congratulações. E muitos gosto de ti e és querida. No fundo preciso acreditar que sou todas as coisas que vocês pensam de mim, e me dizem no dia do meu aniversário, e por isso gosto tanto de fazer anos. Não sou insegura, ou melhor, não o sou mais do que qualquer outra pessoa que se conhece e sabe quem é, mas saber que a minha visão de mim é partilhada por vocês, faz envelhecer valer a pena.
Por estes motivos todos, gosto muito de fazer anos!
A vossa mana, sis, laranjinha, cricket, amiga, doida e querida gosta de vocês ainda mais do que gosta de fazer anos!
<3

sábado, 11 de maio de 2013

calor e sol (este texto não foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico)

Oh se gosto do calorzinho que se sente este fim de semana. E gosto do calor do amor dos meus amores também, esse que dura todo o ano. Dizíamos ontem e é verdade, não se pode agradar a gregos e a troianos, impossível. Mas agradar alguém custa tão pouco, é tão fácil, e surpreendam-se agora, faz-nos tão bem, ou melhor, que a pessoa à qual fizemos a fofice. Acredito piamente nisto! Não sou idiota (pelo menos vivo com a convicção que não sou...), não trato bem quem me trata mal, mas tento dar o benefício da dúvida e ouvir as pessoas e as suas razões. Temo que a razão mais comum é o egoísmo. Achamos que merecemos tudo e devemos nada. Não. Errado. Merecemos exactamente o mesmo que damos. Igual. Sem tirar nem pôr. Às vezes o orgulho também nos impede de dar antes de receber. E outras vezes é o medo. Lembram-se de aí há uns tempos, lá para o dia de São Patrício, eu escrever que para amar temos que ser corajosos? Pois é, temos mesmo. E não é para todos, infelizmente. Parece que quanto mais temos a possibilidade de ser, mais nos limitamos. Estranho. Parece que já não confiamos uns nos outros. Eu até entendo, é difícil confiar a outra pessoa um dos nosso bens mais preciosos. Mas este bem, ao contrário dos outros que custam dinheiro, aumenta de valor com a partilha. Fica mais forte e melhor. Mais frágil também. Mas não é essa a maravilha da vida? A fragilidade das coisas que nos faz aprecia-las e vivê-las com um sabor de precariedade que torna tudo único e especial. Eu acredito mesmo nisto. Acho que perdemos horas demais a pensar no que devemos dizer e fazer, ao invés de passar à acção.
Já vos pedi perdão uma vez por esta razão e volto a fazê-lo. Desculpem se vos deixo pouco à vontade com os meus abraços, beijinhos e gosto de ti. Perdoem-me se me falta a conversa quando me sinto pertinho do vosso coração. Fico tímida quando sinto mais do que penso. Perdoem-me que precise de vocês para ser feliz, mas que não precise de falar com vocês todos os dias. Não preciso. Tenho bem juntinho a mim todas as certezas do que nos une.
Poderíamos viver sozinhos, comer sozinhos, mas sonhar sozinhos não dá gozo. Por isso preciso de vocês. De rir com vocês. De desabafar com vocês. De chorar com vocês. De correr e cair com vocês. Porque qualquer que seja a luta, com vocês vira aventura.
Obrigada pela coragem. Obrigada pela partilha, Obrigada por me tornarem mais forte ao me dividir com vocês. <3

segunda-feira, 6 de maio de 2013

feliz

Quando penso na felicidade vem-me sempre à cabeça aqueles filmes antigos onde aparecia um letreiro bem pomposo a dizer "E viveram felizes para sempre". O que quer que isso pudesse significar... Não acredito no felizes para sempre, acredito no felizes hoje e aqui e agora. Acredito no felizes depois de contarmos uma piada ou sorrirmos a um estranho simpático. Acredito no felizes quando ouço me dizerem, "muito obrigada por ser tão simpática", principalmente quando essa mesma pessoa nasceu no mesmo dia que eu mas 56 anos antes. Acredito na felicidade em desabafar com um amigo ou com um irmão, aquele desconforto que nos pesa, a nós apenas, por ser tão desadequado à nossa visão e sentir do mundo. Acredito na felicidade quando sorrimos no meio de um beijo num fim de tarde. Acredito na felicidade apenas pelo sentir do calor doce do sol ao início da manhã.
Acredito, principalmente, que a felicidade vem aos bocadinhos, às peças. Pequenas como aquelas de puzzle com 5000. Por isso não posso deixar de acreditar que a felicidade para ser vivida plenamente tem que fazê-lo em comunhão com a infelicidade. Porque somos todos metades, e não é possível ser sem a outra. Há que aprender a ver, a reconhecer, a distinguir, essa mesma felicidade. Temos que reconhecer as nossas peças para no final montarmos o nosso puzzle. Por muitas vezes o que acontece é que apenas temos felicidade às peças e se não as soubermos reconhecer, caímos no erro que pensar de não somos felizes. Tolice, pois claro. Existem vezes em que só temos mesmo as peças e construir esse puzzle de felicidade em especial, é difícil. Mas temos as peças, não se esqueçam. Se temos as peças, somos felizes.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O cansaço e o desejo.

E as horas passam rápido, mas eu sinto todos os segundos intermináveis. E o peso do dia, sente-se, nos olhos e nos pés, na minha ligação ao céu e na minha pertença à terra. A exaustão, quase doce, por estar prestes a ser vencida, só sobreviveria a ti. Tu poderias revertê-la, ou pelo menos, adiá-la. O teu calor, a tua proximidade, as tuas mãos e a tua loucura. Vencê-la apagando-me num abraço apertado misturado com o sono tão desejado, ou adiá-la, cansando-me até ao limite do suportável. Em total sinceridade, não consigo escolher qual me seria mais agradável. Tenho os sentidos deturpados, por cansaço e por desejo. Tenho a pele confusa, querendo o toque suave e frio dos lençóis e ao mesmo tempo desejando o teu toque quente, por vezes rude, mas tão delicado e doce. Não sei se os meus lábios morreriam, juntamente com a noite e a lua, ao toque dos teus, ou se renasceriam, como a fénix, com um novo fogo. Nem sei bem se preferia renascer ou sucumbir. Hoje não tenho respostas, nem reflexões. Apenas possuo incertezas e um turbilhão de sentidos e sentires. Só o corpo me obedece e, em estranha sintonia, funciona como se nem de mim precisasse. Dependente e livre, ao mesmo tempo.
Já nem tenho vontades, só o cansaço.
O cansaço e o desejo.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

expectativas


Vocês, que gostam de mim, fazem-me acreditar. Dizem que sou assim e assado, e eu, por gostar de vocês e principalmente por querer acreditar no que dizem, acho que sou o que falam. Acho que sou tudo o que vocês me dizem e o que os outros também. Por vezes penso que o meu conhecimento de mim própria é quase nulo, tanto que quero acreditar em vós. Sou fraca, sei bem. Tenho esta necessidade de ser aceite por todos. 
Não baralhem as coisas, não sou maleável. Não mudo por vossa conveniência, mas adapto-me aos vossos moldes, como a água da chuva se molda ao meu rosto num dia como o de hoje. O problema é quando estou em batalhas sozinha, ou apenas com um oponente. Aí quando todos os vossos assins e assados não me chegam aos ouvidos, duvido até da própria sombra. 
Mas a dúvida pode ser boa, certo? Faz-nos questionar. 

Quando me olho ao espelho conheço quem me olha de volta, mas debaixo da minha pele existe tanto que um simples espelho não chega. Debaixo da minha pele existe um mundo de dúvidas e de certezas e um submundo maior ainda de vontades e desejos. Guardados. As minhas gavetas estão sempre arrumadinhas e a desarrumação não me é confortável.
O problema com gavetas arrumadas é a tentação. De desarrumá-las, de colocar o mesmo noutro sítio. E quando arranjamos coragem para o fazer descobrimos que apesar da desarrumação não ser confortável sabe bem. É boa. É perigosa e dá poucas certezas, mas também é aliciante e desafiante. E no final percebo que gosto. Da desarrumação. Do desejo. Das vontades. Da dúvida que surge ao construirmos certezas. 

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Obrigada

Acho que este blog anda a ser muito mimado! :) Obrigada por lerem e gostarem. Obrigada por tentarem compreender, nem que seja por um segundo, tudo o que passa pela minha cabeça.

Tenho a certeza que nem os que me conhecem bem, por vezes imaginam que tanta coisa se passa dentro de mim. Sempre gostei de livros e principalmente, sempre gostei de palavras. Acredito que as palavras encerram um poder quase infinito de moldar o mundo à nossa volta e o mundo dentro de nós. Com elas podemos exprimir e dar a conhecer e quem escreve, mesmo que seja tão amador como eu, é como se partilhasse pedacinhos da alma. Sei que nunca irei ser astronauta,nem  comediante e nem escritora de bestsellers, mas ao partilhar as minhas palavras convosco sinto que todos os sonhos em mim são possíveis. E sei que o são. Ao gostarem do que eu escrevo, eu sinto mesmo que gostam um bocadinho de mim, porque estas palavras são tão minhas como os olhos grandes cor de mel e os caracóis despenteados.

Por isso obrigada, por partilharem as minhas palavras e na extensão delas, os meus sonhos. Obrigada por acreditarem que se tentarmos conseguimos realmente fazer a diferença, nem que seja através de uns riscos numa folha de papel. Obrigarem por me lerem, porque essa é a minha maior ambição. Dar a conhecer a vocês as minhas palavras.

Obrigada.

domingo, 31 de março de 2013

Cloudy days

E se tudo o que eu tiver a dizer não for suficiente? E se tudo o que posso dar não chegar? Eu, que vejo todos os caminhos, dar-te-ia um pouco da minha visão de aviador e de sonhadora para que tu pudesses ver tudo. Claro como o dia. Ver que existe um caminho não traçado, um trilho nunca caminhado, ténue, fraco, mas existe. Está lá, inequivocamente.

Bem mais difícil do que carregar algo é ensiná-lo a andar. E eu, que tenho sempre esperança e que vejo sempre o claro do dia, fico ensombrada. Mesmo quando não se vê, o sol está lá sempre. E muitas vezes mesmo sem o ver, sentimos o seu calor e a sua claridade. Oxalá sentisses a minha claridade, como se fosse o teu sol. Usa-me como teu sol, não me importo, se te ajudasse a ficar bem eu até gostava!

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Valentine's

Gostava de escrever algo tremendamente belo e profundo. Gostava de tocar nas almas dos que lêem. Gostava de vos contar acerca das almas que se encontram nos desencontros do dia a dia e se completam com um olhar. Ainda há aqueles que lutam contra o que sentem, por razões que eles próprios desconhecem. Mas a responsabilidade de dar a alguém o poder sobre a nossa felicidade é duro. E pesa. Acho os amantes corajosos, são valentes e enfrentam tudo. Mesmo. De que outra maneira podemos dar o nosso coração a alguém se não possuirmos a força de super-heróis? De que outra maneira podemos atribuir a outra pessoa grande parte da nossa felicidade? Corajosos! Acreditem no que vos digo.

Por isso hoje é também o dia dos heróis. Daqueles que vão a correr comprar flores e dos outros que estão a planear a noite desde há dias! Por isso este dia também é para todos os que se esforçam por entender o que dizemos entre linhas e para outros que se lembram de conversas que tivemos ainda o dia não tinha nascido.

E quando falo em dar o coração, não falo apenas do amor amado. Mas também da amizade, da cumplicidade e da fraternidade. Não sei se já se tinham apercebido, mas depositamos sentimentos muito valiosos nos outros. Ao entregarmos o nosso coração estamos a dar-lhes parte de nós, e esse gesto dá-nos tamanha alegria que ser corajoso se torna fácil. Tal como amar é fácil.

Por vezes podemos magoar ou ser magoados. Mas como uma vez me disse um amor sábio, recebemos mais coisas boas do que más, porque tem que as más apagar as boas? Não têm, por isso corajosos, guardem os amores. Todos. Os passados num gaveta bem arrumada, para que lá possam voltar quando sentirem saudade ou quando se querem lembrar de quem foram e quem são. Os actuais usem-nos na lapela, bem à vista, espalhando a vossa felicidade e distribuindo coragem e amor. Aos futuros, guardem sempre espaço no vosso coração, nunca se sabe o que trás o amanhã.

Feliz dia de São Valentim <3

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Tenham paciência, please...

Amigos, não me esqueci da nossa história. Estou a escrevê-la, mas de momento tenho tantas coisas para fazer que não me consigo dedicar ou concentrar o suficiente. Mas não me esqueci. Levo sempre esta história comigo e vou continuar... Obrigada por me lerem... <3

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Capítulo 3.


Elisa estava à espera há quase 30 minutos. “Mas porque tanta demora” – Pensava Elisa – “E quem será Eduarda Neves?”. Neves era um dos seus apelidos, mas Elisa desconhecia alguém que se chamasse Eduarda e que pertencesse à sua família.
Na verdade, Elisa não tinha bem a certeza. A família materna sempre tinha sido um assunto delicado. A mãe de Elisa sempre fora uma mulher frágil, consumida por uma tristeza permanente, dilacerada por um segredo. Elisa sempre soube que a mãe lhe escondia alguma coisa, tentou várias vezes, em vão, descobrir o quê. Mas havia algo que sempre a perturbara, Elisa nunca ouvira falar da sua avó. Quando era criança tinha perguntado algumas vezes à mãe acerca da sua avó, mas esta nunca lhe dera uma resposta concreta e ficava sempre triste e distante, e por essa razão, ela deixou de perguntar.

 - Finalmente! – Pensou Elisa, quando viu o advogado. – Encontramo-nos aqui presentes para a leitura do testamento da Eduarda Neves.
No final dessa tarde, Elisa sentiu que tinha envelhecido 10 anos. Tanta coisa desconhecida, tantos segredos, tantas mentiras. – Porquê mamã, porque nunca me disseste que eu tinha mais família? Porque nunca me contaste o que aconteceu contigo, o que foi que eles te fizeram, porquê mamã?! – Segredou Elisa à sua almofada, enquanto lutava com a insónia e inquietação que se tinha apoderado dela desde a leitura daquele maldito testamento. Quando o advogado terminou a leitura, Elisa descobriu que Eduarda Neves era sua tia-avó e que lhe tinha deixado uma casa junto ao mar, numa aldeia perdida no litoral. Descobriu ainda, que nessa casa poderiam estar as respostas para as perguntas que tinha feito durante toda a sua vida. Quem era a sua avó materna? Porque nunca sentira amor entre os seus pais, porque nunca falava a mãe da tristeza que a acompanhava? – E agora? O que faço? Largo tudo e vou tentar saber quem sou ou vou deixar-me consumir pela incerteza? – Elisa estava num impasse, que resolveu assim que a luz clara e quente do Sol irrompeu pela sua janela.
Quando entrou no carro Elisa estava decidida. Ia conhecer a casa estranha que era sua e iria descobrir quem era Eduarda.
A paisagem foi mudando à medida que os quilómetros foram passando. A superfície vítrea e o cinzento do betão foram dando lugar ao verde das paisagens e ao cheio fresco e leve do mar. A aldeia dava as boas vindas aos visitantes de maneira humilde, com um sinal no início da rua. As ruas estavam desertas e Elisa parou junto à única pensão que havia. A casa ainda era demasiado, não conseguiria dormir lá, mesmo sabendo que é sua.
- Bom dia! Eu gostaria de alugar um quarto, por favor. – Elisa pousou a sua mala pequena na cama de ferro. Sentou-se e chorou. Chorou a tarde toda, chorou por uma tia que não conheceu, chorou por todas as coisas que lhe foram negadas, chorou pela dor da sua mãe que sempre sentiu como sua. No final da tarde sentia-se mais leve e pronta para enfrentar todos os fantasmas da sua vida.

domingo, 27 de janeiro de 2013

Morreste-me

As palavras entram em nós e sentimo-las pelo que somos, por tudo o que vivemos e por tudo o que podemos imaginar. As vozes que saiem do papel invadem-nos com calor, dor, sofrimento e prazer. As dores e as paixões são partilhadas pela ponta de uma caneta, numa folha de papel. E quando existe uma transplantação de arte e as letras se transformam em movimento e calor, quando os sons passam do papel para o ar e a nuvem do possível se torna palpável. A imensidão do que nos invade é pesada e dolorosamente doce. Sentimos a pressão esmagadora de uma dor que não é nossa, mas poderia ser, um desespero que não imaginamos mas conseguimos sentir.
Doeu. Emocionou. Tocou. Fez sentir.
O que passaste para o papel, depois que o sentiste a pesar na tua alma. Tu, que nasceste com o dom de fazer sentir, sentes tanto, que para nossa benção, e espero para alívio do teu sofrimento ou paixão, consegues fazer caber em palavras. As palavras limitadas são transcendentes e intemporais no final da tua caneta. Não deixes de partilhar o teu dom e a tua alma connosco.
Obrigada!

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Capítulo 2


Quando os raios de sol rompem o horizonte pela primeira vez em cada manhã, é a hora que o homem de olhos cinzento e cabelo da cor do sol está a caminhar em direcção ao mar. É verdade todas as manhãs desde há 3 anos. Os aldeões sabem que se chama Daniel. E é só. Sabem, também, que os seus olhos brilhantes e as rugas perfeitas do seu rosto, em junção com as poucas palavras, que por algum engano ou descuido, partilharam são sinónimo de um passado que não consegue largar o presente.
Todos os dias Daniel, o pescador, sai no seu barco para o mar. É a única altura do dia em que percebem algum tipo de sentimento na sua expressão, ao ver o mar banhado pelo primeiro raio de sol. É quase tão misterioso quanto belo. O cabelo cor do sol e a face perfeita poderiam ter sido desenhados com o pincel de um pintor renascentista. Ninguém sabe nada do seu passado, mas todos vêem que Daniel o carrega consigo, onde quer que vá.
-“Sr. Daniel, muitos bons dias! Já sabe da notícia?” – Perguntou a D.Gertrudes quando Daniel entrou na mercearia para comprar fruta.
-“Que notícia será essa?” – Respondeu Daniel, sem estar verdadeiramente interessado na resposta. Apesar de não se importar muito com as tertúlias de aldeia pequena, não pode deixar de reparar que estavam todos muito inquietos nesse dia. Desde manhã, que ao sair do mar reparou na ambulância que subia o pinhal, saindo do casarão da D. Eduarda.
A D. Eduarda era uma senhora idosa que sempre vivera sozinha, pelo menos desde que Daniel se mudou para a aldeia. Nunca conseguiu saber nada sobre ela, e a única vez que ouviu alguém falar sobre o assunto, foi na taberna do Tio Chico, e todos ficaram em silêncio quando ele entrou. Se é que fosse possível, a D. Eduarda era um assunto ainda mais misterioso que ele próprio, o que não pôde deixar de o fazer sorrir.
- “A D. Eduarda, pobre senhora, faleceu a noite passada. Está tudo preocupado com quem irá herdar a casa e as terras. Que se saiba não tem parentes vivos e há mais de 20 anos que não tem visitas. Era boa pessoa, mas solitária. Aposto que todos os parentes se vão desunhar para ficar com as terras e a casa. É sempre assim com a família, só se lembram de santa Bárbara quando faz trovões! Que é como quem diz, só se vão lembrar da pobre alma quando for hora para lhe ficarem com tudo!” – Era sempre assim com a D. Gertrudes, ela começava e acabava as conversas sem necessitar de qualquer tipo de ajuda. Daniel acenou com a cabeça e murmurou um “Que descanse em paz” quase imperceptível.
Apesar da bisbilhotice que parecia ser inata a todos os habitantes daquele pequeno paraíso de desaguava no mar, Daniel amava aquela aldeia. Ao contrário das suas próprias expectativas, sentia que estava em casa quando entrava no mar e quando descansava ao sol sentado na areia quente. Naquela areia quente. Daniel não gostava de pensar em areia, fazia lembrá-lo do deserto e de todas as coisas que perdera quando deambulou, perdido, no seu deserto. Daniel abanou a cabeça para afastar o pensamento, não queria, aliás, não podia pensar nisso.
Subiu a rua e continuou quando a estrada terminou, a sua casa era bem embrenhada no pinhal, longe de tudo. A casa perfeita. O refúgio perfeito.
Daniel não sabia o que era uma noite de sono. Não dormia. Fechava os olhos, o seu inconsciente assumia o controlo, mas não dormia. Não descansava. O deserto tomava sempre conta da sua mente, o som dos tiros, e o vermelho do sangue.
Daniel não conhecia a paz.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Capítulo 1


-Raio de tempo! – Pensou Elisa quando saiu de casa e olhou para as nuvens. O céu reflectia o seu humor, negro e húmido. Elisa acordou nesse dia a sentir-se velha e cansada. Apesar de ter apenas 32 anos, certas manhãs parecia que carregava o mundo nas costas.
Tinha sonhado com a mãe nessa noite, ainda não conseguia conceber um mundo onde a mãe não existisse. Era uma dor sempre presente. Apesar disso foi um sonho bom, Elisa tinha sonhado com o piquenique que tinham feito nas margens de um lago, quando tinha 12 anos. Foi um dia perfeito. Mas o sonho, apesar de feliz, deixara marcas em Elisa, tumultos presentes a cada vez que sonhava com a mãe.
A praça principal da cidade estava cheia de vida, como acontecia todas as manhãs. Homens de várias origens tornados irmãos pelos fatos de corte semelhante. O incessante burburinho ensurdecedor provocado pelos madrugadores que trabalham no centro da capital. Elisa sentia-se em casa. Aquele era o seu mundo, era a capitã do navio que era a sua vida.
Ao entrar no átrio em mármore frio do prédio onde trabalha, Elisa vê ao longe um homem alto e elegante, que apesar de não ser o mais bonito do escritório, é com toda a certeza o mais conhecido.
-“Bom dia Elisa, já viste esta chuva? Nunca mais chega o Verão!” – Gonçalo era simpático, talvez demasiado simpático. Fazia-a rir de todas as vezes que conversavam e o facto de namoriscar com todas as mulheres do escritório, incluindo ela própria, era só mais um traço enternecedor da sua personalidade. E ao contrário do que seria esperado era algo que o tornava ainda mais charmoso e interessante, do que era na realidade.
-“É hoje que aceitas tomar aquele cafezinho comigo? Va lá, aposto que te ias divertir!”
-“Gonçalo, diz-me a sério, quando é que te vais cansar de ouvir não?” – Perguntou Elisa a sorrir.
-“ Um não teu? Nunca!” – Gonçalo sorriu, aquele sorriso matreiro que tanto agradava Elisa e que por vezes lhe dava vontade de responder sim aos inúmeros convites que ele lhe fazia todos os dias. Mas ela sabia quem ele era, e Elisa era apenas mais uma. Independentemente disso, Gonçalo deixava-a sempre bem-disposta e naquele dia, em especial, agradeceu-lhe por isso.
-“ Mais uma vez obrigada. E, como gosto de ser coerente, fica para uma próxima vez!”
Gonçalo piscou-lhe o olho e afastou-se, com um sorriso matreiro e um olhar lânguido. Era confortante saber que havia coisas que nunca mudavam, Elisa sorriu e dirigiu-se à sua sala.
Ao entrar Elisa reconheceu a vista da janela e o monte de papéis que tinha deixado em cima da mesa na noite anterior.
-É incrível como o trabalho se acumula – suspirou Elisa enquanto olhava para a sua secretária. Só quando se sentou é que reparou que tinha correio em cima da mesa.
Já tinha mudado de casa há quase 6 meses e mesmo assim ainda lhe reenviavam para o emprego o correio extraviado que ia parar à morada antiga.
- “Estranho, uma notificação do tribunal.” – Pensou Elisa enquanto abria a carta com a sua faca de envelopes, prenda do pai no Natal anterior.

Elisa não poderia adivinhar como a abertura daquela carta iria mudar a sua vida. Talvez fosse uma mudança aquilo que Elisa precisava, mas o que aconteceu, ninguém, muito menos Elisa poderia adivinhar.

Partilha

Queridos amigos que partilham os meus devaneios neste blog. Tenho a ambição, meio secreta, de escrever. Já devem ter percebido...
Comecei a escrever um livro sem título e que provavelmente não chegará a lado algum. Mas gostava de o partilhar aqui, tornado-o assim mais real. Mais possível.
Vai levar tempo, para mim escrever é uma inspiração e por essa razão não aparece sempre que quero, mas sempre que essa vontade, claramente superior a mim, impera.
Quero ouvir o que pensam, quero que me digam se gostam ou não. Provavelmente não irá mudar em nada a linha da história, mas ajuda-me a crescer e talvez, com muita esperança e vontade, a escrever melhor.
Mais uma vez, perdoem-me desde já o imenso tempo que demorarei a partilhar esta história convosco. E acreditem que a partilho porque confio e porque parte do prazer de escrever é saber que alguém lê.

O livro não tem título, veremos se terá fim.

sábado, 12 de janeiro de 2013

o café

Quando saí, ao ouvir a porta bater atrás de mim, o mundo desapareceu. O que aconteceu? - perguntei a mim própria enquanto respirava fundo e tentava afastar a dormência doce que se apoderou de mim após a invasão daquele olhar azul.
- Respira Alice, respira e vai trabalhar! - disse num sussuro enquanto atravessava a rua.

O resto do dia foi pálido, em relação aos acontecimentos daquela manhã de inverno.


sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

o café

Entrei e fui directo à minha mesa de sempre, que espera por mim. Ao contrário de todas as outras vezes, não houve repetição. A mesa já não era minha. Estava ocupada.
A minha disposição mudou logo, aquela é a minha mesa, este é o meu café. Quem pensa que é aquele estranho de olhos cor do mar e cabelos cor de terra. Sentei-me perto da janela, contrariada. Daqui vejo a rua e o balcão, vejo toda a sala. É uma mesa bem melhor, falando em verdade. Mas que importa isso? Quero a minha mesa, para beber o meu café.

O meu café chegou, coloquei meio pacote de açucar, como sempre, na minha mesa de nunca. Mexi, soprei e olhando o infinito levei a chávena à boca. Ao sentir o líquido quente nos lábios, percebi que o infinito para onde olhava tinha cor. Azul. E olhava-me de volta.

Sobressaltada, baixei a chávena, e os olhos, em resposta ao sorriso aberto que esboçaste na minha direção.

Borboletas.